Depois de quase vinte anos no arquipélago decidi compartilhar algumas experiências e observações, pontos de vista e reflexões, divergentes sim, dependendo do critério pessoal de quem lê este artigo.
Nós brasileiros residentes no Japão, já passamos por algumas fases, algumas boas, outras nem tanto, mas acima de tudo, adquirindo experiência e vivência, coisa que dificilmente não se aprende nas escolas, aqui sim podemos dizer que é uma escola da vida.
Há pouco mais de 100 anos chegava ao Brasil o navio Kasato Maru, levando a bordo os primeiros imigrantes japoneses, oriundos de diversas regiões do Japão, ancestrais dos atuais dekasseguis, levando consigo muita garra e vontade de vencer em terras tupiniquins, sem falar o idioma, sem estar acostumados com a culinária, entre outras coisas.
Muitos venceram apesar da exploração evidente dos senhores feudais, da discriminação e sobretudo nas dificuldades em épocas de Guerra, pois o Japão não lutava do mesmo lado que o Brasil na segunda Guerra.
Recordo que os nisseis, ou seja , os filhos de japoneses nascidos no Brasil sempre foram vistos com bons olhos pela sociedade, muito estudiosos, inteligentes e honestos, bons comerciantes e empresários, e os sanseis, netos de japoneses, da qual eu faço parte, posso dizer que já somos uma geração mais privilegiada.
Assim no final dos anos 80 a escassez da mão de obra no Japão e o começo da bolha econômica fizeram que o país abrisse as portas para os nisseis e sanseis, ávidos de força de vontade de trabalhar, aprender e vencer na Terra do Sol Nascente.
Hoje, muitos estão estabelecidos, têm casas próprias, filhos nas escolas, outros são comerciantes, empresários, e a grande maioria trabalha de sol a sol na dura rotina das fábricas...
Em conversas com alguns trabalhadores de fábricas, percebi que muitos já se perderam do objetivo inicial, hoje apenas trabalham e não tem mais sonhos, objetivos, metas...
Apesar da segurança "virtual" do trabalho, nós, trabalhadores brasileiros ainda estamos longe de ter a tão sonhada estabilidade nos empregos, essa é a dura realidade, apesar de termos conquistado vários direitos ao longo dos anos, a desigualdade é visível, estamos sujeitos às crises, e com a idade chegando inevitavelmente perderemos nossos postos no mercado de trabalho mais cedo ou mais tarde.
E o Brasil, nossa pátria tão amada, apesar das desigualdades sociais, é um país emergente, uma potência econômica em evidência e um país de oportunidades, assim creio.
Qualquer que seja seus objetivos, o importante é que nunca desista dos seus sonhos, sejam eles aqui no Japão, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
E o mais importante, nunca deixe de lutar pelos seus direitos, se você não o fizer, ninguém o fará por você.
